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sábado, 13 de agosto de 2016

História de revolucionária itabaianense será contada em livro

Netas de Leonilla Almeida confirmam participação na entrega do Prêmio em 2017


Em novembro de 1935 estourou em Natal (RN) um levante militar em nome da Aliança Nacional Libertadora. Em seguida ao movimento em Natal, que obteve apoio popular e chegou a assumir o controle da cidade por quatro dias, foram deflagrados levantes em Recife e no Rio de Janeiro. O casal Ephifânio e Leonilla estiveram na linha de frente do movimento em Natal.

Flávia Guilhermino e Alessandra Guilhermino são netas da ativista política Leonilla Almeida, que dá nome ao Prêmio entregue anualmente pela Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba a mulheres que tenham se destacado em defesa da cultura e dos direitos humanos na Paraíba. O avô delas, Ephifânio Guilhermino, também foi um revolucionário. O casal foi preso em 1935 em Natal, durante a chamada Intentona Comunista, e mantido no presídio Cândido Mendes, da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, durante alguns anos. Neste presídio, tiveram contato com o escritor Graciliano Ramos, que escreveu sobre eles no livro “Memórias do cárcere”.

As netas de Leonilla e Ephifânio manifestaram desejo de participar da festa de entrega do Prêmio Leonilla Almeida em 2017, em local ainda ser definido, segundo a Comissão Organizadora. “Nossa memória sobre o passado de nossos avós está escassa. Dois dos filhos dela já faleceram e nossa tia avó, que sabe muitas coisas do passado de lutas deles, está com 90 anos”, disse Alessandra, que mora em São Paulo. 

O jornalista Fábio Mozart está escrevendo livro sobre Leonilla Almeida, para ser lançado por ocasião da entrega do Prêmio em 2017. “Tenho alguns depoimentos e muitos documentos que me foram disponibilizados por Antonio Felix Guilhermino, um dos filhos de Leonilla, que morava em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, incluindo Certidão de Casamento no Cartório Santiago Bandeira em 1927, ela então com 17 anos. Os pais de Leonilla não aceitaram a união devido ao fato de Ephifânio ser negro. Por este motivo, Leonilla abandonou a casa dos pais, no distrito de Campo Grande, e foi morar em Natal, onde se envolveu nas lutas políticas da época”, narrou Mozart. O militante comunista Ephifânio Guilhermino e sua esposa Leonilla continuaram na luta, tendo ele sido denunciado em 1968 por “agitação que colocava em risco a segurança nacional”, segundo consta em Certidão da Agência Brasileira de Inteligência.

Abdicando de sua condição social e sua herança cultural, Leonilla Almeida saiu de casa ainda novinha, na conservadora Itabaiana dos anos 30, para se casar com um homem negro, pobre e comunista, no Rio Grande do Norte. O velho Antonio Félix Cardoso, pai da jovem Leonilla, jamais perdoou a violação de um preceito da época: mulher é para ficar em casa e casar com quem a família consentir. Ela não só casou com um homem de cor, para desesperação da família, como assumiu sua ideologia socialista e “marchou na sua luta”, como diria muitos anos depois outra mulher combatente, Elizabeth Teixeira, esposa de Pedro Teixeira, mártir na luta dos trabalhadores na Paraíba. 

Por ter feito parte do levante comunista de 1935, Leonilla Almeida e seu esposo, Ephifânio, foram presos e torturados pelo governo de Getúlio Vargas. A revolta popular foi sufocada, muitos foram mortos. Centenas foram presos e supliciados nas masmorras. Entre essas pessoas, Leonilla e Ephifânio. Foram para a Ilha Grande, onde conheceram o escritor alagoano Graciliano Ramos, preso também por seu envolvimento político. Graciliano nunca foi formalmente acusado. Passou meses na cadeia e lá começou a escrever seu romance “Memórias do cárcere”, onde descreve essa figura, Leonilla Almeida, símbolo da coragem da mulher paraibana. 


Fábio Mozart escreveu sobre a saga de Leonilla e seu marido no livro “História de Itabaiana em versos e algumas crônicas reais”. “Pretendo realizar um trabalho de pesquisa mais completo neste livro, incluindo depoimentos de outra neta de Leonilla, Vivian Pinto, com quem entrei em contato há alguns anos”, disse ele. Na verdade, a História registra duas heroínas itabaianenses; uma delas é Maria Joaquina de Santana, mulher do Capitão Félix Antonio, símbolo da valentia da mulher paraibana na Confederação do Equador. Nessa revolução, deu-se a batalha do Riacho das Pedras em Itabaiana, no ano de 1824, entre brasileiros separatistas e republicanos contra os prepostos de Portugal. A outra é Leonilla Almeida, nascida no distrito de Campo Grande. “Leonilla saiu de Itabaiana para se tornar um personagem da literatura universal, com sua luta plena de entusiasmo pelos melhores ideais de justiça e igualdade”, escreve Mozart.


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