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sábado, 5 de novembro de 2016

Estudante de Itabaiana que mora no “Lixo” desconhece movimento pela educação no Brasil

O “Lixo” é como ficou conhecida a comunidade José Benedito da Silveira, na entrada de Itabaiana, Paraíba. É um conjunto marcado pela pobreza e falta de estrutura urbana. O prefeito Antonio Carlos mandou fazer arremedo de calçamento que se desfez nas primeiras chuvas. Os jovens da localidade sonham com uma pracinha onde possam ter o mínimo de lazer, com sinal de internet. “A gente precisa descer pra rua grande, Praça Epitácio Pessoa, onde tem wi-fi”, reclamou Evandro Vicente Ferreira (foto), 21 anos, estudante da Escola Santiago, próxima ao conjunto.

Evandro é filho de mecânico e tem um sonho: gravar CD com suas músicas. Desempregado, ele não tem perspectiva de ocupação remunerada na cidade. É adepto do Hip Hop e tem quinze músicas prontas. “Meus amigos me acham um ótimo MC, mas eu tou pensando em desistir desse sonho porque aqui não temos oportunidade para pessoas com talento”, lastima.

Perguntado se sabia das ocupações que estão sendo feitas por estudantes do Brasil em protesto contra as medidas do Governo para diminuir os investimentos na educação, Evandro afirmou que não sabia do fato. “Tou sabendo agora disso, meus professores não falam e não ouvi no rádio. Na TV, vi alguma coisa desse tipo, mas não prestei atenção”, disse ele.

Fã do grupo Hungria Hip Hop de Brasília, Evandro também reclama das rádios que não tocam seu gênero favorito. “Só escuto a Rádio Itabaiana e a 98 FM, porque a Rádio Comunitária Rainha não chega o sinal em minha comunidade”, explicou. Indagado se já leu um livro algum dia, ele diz que faz tempo e não lembra. E do que fala sua música? “Romantismo, coisas do amor”, explica. Ao ser esclarecido de que o Hip Hop é ‘filho’ da rebeldia, falando da situação dos moradores das zonas periféricas, da opressão e massacre dos jovens negros, Evaldro foi cético: “Mas, será que adianta falar dessas coisas? Poucos escutam, ninguém liga pra nós”.

Eleitor do líder comunitário Sousa de Campo Grande, o rapper declara seu voto e lastima porque seu candidato não ganhou. “Ele conquistou nosso voto pelas propostas, por ter conversado principalmente com os jovens da comunidade”, esclareceu. O que espera do novo prefeito eleito? Evandro ficou um instante em silêncio e fez sinal de descrença. Ele é de uma geração que passou por várias gestões municipais desprovidas de qualquer tipo de compromisso sério com as comunidades.

Ao final, faz questão de dizer que seu melhor professor é o de Geografia, por nome Oséas. “Ele sabe ser professor e amigo”, afirmou. O único parceiro de Hip Hop na cidade é Gabriel Feitosa, também estudante no Colégio Dom Bosco. “Nunca fizemos música juntos, mas admiro o trabalho dele”, revelou Evandro. E aproveitou para mandar um recado ao prefeito Lúcio Flávio, que assume em janeiro: “faça a nossa pracinha no ‘Lixo’”.

Na entrevista, a reportagem lembrou que o Papa Francisco, durante seu primeiro encontro com os participantes da Jornada Mundial da Juventude, na Cracóvia (Polônia), pediu aos jovens que "se rebelem, questionem, sonhem, e evitem os caminhos obscuros". Evandro fez questão de esclarecer: “não uso drogas, não quero dar esse desgosto à minha mãe.”




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