Filha do mestre Zé Leiteiro recebe
Prêmio Leonilla Almeida pela preservação da cultura tradicional
Zé Leiteiro |
Maria do
Carmo é filha do mestre Zé Leiteiro, brincante da tribo Filhos de Tubinambá,
caboclinho que sai no carnaval de Itabaiana, Paraíba, há 56 anos. Com a morte
do cacique Zé Leiteiro, sua filha assumiu a tarefa de manter o caboclinho. “É
uma prova de amor à cultura e à preservação de uma arte que não deve morrer,
mesmo sem o reconhecimento do Estado”, disse Edglês Gongalves, arte-educador na
cidade”. Dona Do Carmo, como é mais conhecida, tem um filho, José Jackson, que
também faz parte do caboclinho, tocando a flauta que pertenceu ao avô, Zé
Leiteiro. “Essa flauta passou pelo seu tio, depois do avô, e agora ele tem
orgulho de dar continuidade à tradição da família”, disse Do Carmo, que teme o
fim do carnaval tradição em sua cidade. “Antes, o carnaval era organizado e
tínhamos incentivo, mas agora, além da falta de apoio, ainda temos que
enfrentar a falta de ordem no percurso do carnaval de Itabaiana”, lamenta.
Todos os
anos a tribo indígena ensaia na sala da casa de dona Do Carmo, reunindo amigos,
familiares e vizinhos. “Botar o caboclinho na rua é como se meu pai estivesse
aqui com a gente, é uma forma de preservar sua memória”, disse ela. Para
homenagear a folclorista Do Carmo, a Sociedade Amigos da Rainha do Vale do
Paraíba concedeu o Prêmio Leonilla Almeida, que será entregue em 14 de março
próximo.
José Luiz
da Silva, o Zé Leiteiro, foi um dos maiores mestres de
caboclinhos de Itabaiana, juntamente com Josa dos Índios Assombrados da
Floresta, Mocó e Agostinho.
Originários
da cultura indígena, os caboclinhos expressam o sentimento nativista, com
coreografias marcadas pelo estalo dos arco-e-flechas. É nas religiões Jurema e
Catimbó que atuam os principais mestres e caboclos. Alguns grupos se
distanciaram dessas linhas e se aproximaram de religiões afro-brasileiras,
ligadas a terreiros de Xangô e Umbanda. Dos grandes mestres de caboclinhos de
Itabaiana, apenas Josa dos Assombrados ainda vive. Morreram já há algum tempo o
mestre Mocó e o mestre Zé Leiteiro, este último chefe de terreiro de Umbanda
que também é preservado pelos familiares. Atualmente, o caboclinho “Tupinambás”
é mestrado pelo neto Jackson, comandante da tribo.
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