Netas de Leonilla Almeida confirmam
participação na entrega do Prêmio em 2017
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Em novembro de 1935 estourou em Natal (RN) um
levante militar em nome da Aliança Nacional Libertadora. Em seguida ao
movimento em Natal, que obteve apoio popular e chegou a assumir o controle da
cidade por quatro dias, foram deflagrados levantes em Recife e no Rio de
Janeiro. O casal Ephifânio e Leonilla estiveram na linha de frente do movimento
em Natal.
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Flávia Guilhermino e Alessandra Guilhermino
são netas da ativista política Leonilla Almeida, que dá nome ao Prêmio entregue
anualmente pela Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba a mulheres que
tenham se destacado em defesa da cultura e dos direitos humanos na Paraíba. O
avô delas, Ephifânio Guilhermino, também foi um revolucionário. O casal foi
preso em 1935 em Natal, durante a chamada Intentona Comunista, e mantido no
presídio Cândido Mendes, da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, durante alguns anos.
Neste presídio, tiveram contato com o escritor Graciliano Ramos, que escreveu
sobre eles no livro “Memórias do cárcere”.
As netas de Leonilla e Ephifânio manifestaram
desejo de participar da festa de entrega do Prêmio Leonilla Almeida em 2017, em
local ainda ser definido, segundo a Comissão Organizadora. “Nossa memória sobre
o passado de nossos avós está escassa. Dois dos filhos dela já faleceram e
nossa tia avó, que sabe muitas coisas do passado de lutas deles, está com 90
anos”, disse Alessandra, que mora em São Paulo.
O jornalista Fábio Mozart está escrevendo
livro sobre Leonilla Almeida, para ser lançado por ocasião da entrega do Prêmio
em 2017. “Tenho alguns depoimentos e muitos documentos que me foram
disponibilizados por Antonio Felix Guilhermino, um dos filhos de Leonilla, que
morava em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, incluindo Certidão de Casamento
no Cartório Santiago Bandeira em 1927, ela então com 17 anos. Os pais de
Leonilla não aceitaram a união devido ao fato de Ephifânio ser negro. Por este
motivo, Leonilla abandonou a casa dos pais, no distrito de Campo Grande, e foi
morar em Natal, onde se envolveu nas lutas políticas da época”, narrou Mozart.
O militante comunista Ephifânio Guilhermino e sua esposa Leonilla continuaram
na luta, tendo ele sido denunciado em 1968 por “agitação que colocava em risco
a segurança nacional”, segundo consta em Certidão da Agência Brasileira de
Inteligência.
Abdicando de sua
condição social e sua herança cultural, Leonilla Almeida saiu de casa ainda novinha,
na conservadora Itabaiana dos anos 30, para se casar com um homem negro, pobre
e comunista, no Rio Grande do Norte. O velho Antonio Félix Cardoso, pai da
jovem Leonilla, jamais perdoou a violação de um preceito da época: mulher é
para ficar em casa e casar com quem a família consentir. Ela não só casou com
um homem de cor, para desesperação da família, como assumiu sua ideologia
socialista e “marchou na sua luta”, como diria muitos anos depois outra mulher
combatente, Elizabeth Teixeira, esposa de Pedro Teixeira, mártir na luta dos
trabalhadores na Paraíba.
Por ter feito parte do levante comunista de 1935,
Leonilla Almeida e seu esposo, Ephifânio, foram presos e torturados pelo
governo de Getúlio Vargas. A revolta popular foi sufocada, muitos foram mortos.
Centenas foram presos e supliciados nas masmorras. Entre essas pessoas,
Leonilla e Ephifânio. Foram para a Ilha Grande, onde conheceram o escritor
alagoano Graciliano Ramos, preso também por seu envolvimento político.
Graciliano nunca foi formalmente acusado. Passou meses na cadeia e lá começou a
escrever seu romance “Memórias do cárcere”, onde descreve essa figura, Leonilla
Almeida, símbolo da coragem da mulher paraibana.
Fábio Mozart escreveu sobre a saga de Leonilla
e seu marido no livro “História de Itabaiana em versos e algumas crônicas
reais”. “Pretendo realizar um trabalho de pesquisa mais completo neste livro,
incluindo depoimentos de outra neta de Leonilla, Vivian Pinto, com quem entrei
em contato há alguns anos”, disse ele. Na verdade, a História registra
duas heroínas itabaianenses; uma delas é Maria Joaquina de Santana, mulher do
Capitão Félix Antonio, símbolo da valentia da mulher paraibana na Confederação
do Equador. Nessa revolução, deu-se a batalha do Riacho das Pedras em Itabaiana,
no ano de 1824, entre brasileiros separatistas e republicanos contra os
prepostos de Portugal. A outra é Leonilla Almeida, nascida no distrito de Campo
Grande. “Leonilla saiu de Itabaiana para se tornar um personagem da literatura
universal, com sua luta plena de entusiasmo pelos melhores ideais de justiça e
igualdade”, escreve Mozart.